sábado, 5 de maio de 2012

Essências '

Embora se foi e eu deixei-a ir, quebrei as algemas, e me algemei em seu lugar, chorei lágrimas de perdas, pari pedras, meu sofrimento calado e solitário, quebrou as pedras e transformou em pó, meu espírito inquieto se tornou lento afumegar, e os olhos de quem partiu derreteu seu esplendor esverdeado, pelo líquido inebriante e falso da alegria. Volto ao lago onde lhe dei a vida, fico pasma! Pela imundice sombria, as águas calmas tornaram-se fúria, e o lago rejeitou sua adoção, desnudou sua alma, e a fez caminhar sobre terra seca pedregosa, sob sol escaldante, mas entre suas memórias revolvidas havia papéis sujos, e a saudades do sagrado e secreto coração, amante da alegria por ter vivido a verdade. Retira seu lenço do passado, e acena pela volta. Sabe que o caminhar a fará sangrar, mas prossegue, crédula e confiante, sente no rosto a brisa abençoada do aceitar, e junto com o vento é levado toda a fumaça torpe e mal cheirosa. A menina guerreira então, com seus pés plantados agora na terra da vida, usa as ferramentas da verdadeira emoção, para prazerosamente viver a vida que lhe foi presenteada para retomar seu lago puro... Por que sabe que alguém que lhe ama além do amor lhe espera, para juntas plantar essências e perfumar seu presente, e eu a deixei se aconchegar...

Dora Dorinha '

Andorinha... Andorinha, alce vôos, mostre para que veio minha Andorinha, oleira, arquiteta, trabalhe o barro, a argila, com o bico veloz. Bem sei do seu cansaço, nele escondes teu coração, mas se mostras feliz! És feliz! Construiu seu lar, com zelo absoluto cria seus filhotes com desvelo, lhes ensina a sabedoria, e o segredo de construir, entre as paredes do templo se sente graciosa, levanta a cabeça cheia de altivez, voa altaneira. O seu predador não lhe faz medo, sua casa está entre as paredes do templo, seu lar é seu reduto, lá você é sacerdotisa, com sabedoria sabe que seus dias são escassos, mesmo assim voa corajosa, voa como se fosse seu último bater de asas. Por um triz não toca a morada do seu Criador, fala com Ele, lhe agradece por ter sido ensinada, como construir seu habitat, com papéis de seda enfeita seus pátios, e ouve o Rei dizer-te:' Melhor um dia nos teus pátios, do que mil em outro lugar'. Vá Andorinha, labuta teus pátios até encontrares repouso, alça seu vôo para fugir do perigo, nunca da vida... Vai sim em busca da real liberdade, pega carona no vento, para se manteres viva, esperança são as suas asas, e assim agradece cada amanhecer, e eu mortal Dorinha, por que não vou voar como uma Andorinha, perder meus medos, e mudar meu planar, serei livre se não meu predador me tira o indescritível prazer de voar.

Simplesmente '

É noite e meus fantasmas antigos voltam em minha mente, mas agora muito nítidos tão transparentes e visíveis que quase posso toca-los. Cheiro doce como os afagos nunca esquecidos, apenas engavetados pelo amigo tempo, antes de se aproximar de mim meu olfato sente levemente o perfume adocicado que me faz estremecer de emoção, é meu afago. Está vestida de prata, seus cabelos curtos e negros, ah! Esse sorriso, como um colar de pérolas, conheci tantos e tantos, mas aquele era como neve, era inconfundivelmente familiar, com voz maternal me dizia: 'Saudades meu bem', e eu com olhinhos negros e empobrecidos pela falta de brincadeiras e afagos. Fecho e abro meus olhinhos, como um 'lequezinho' oriental, e relembro que antes da sua chegada me escondia atrás do meu balanço, para fugir do martírio de ser pequenina criança, na dormência da inocência tudo era fuga. Meu acordar, meu andar, meu ódio infantil, guardado na caixinha do meu frágil peito. O dia se vem e com ele a claridade, não posso mais chorar, me transformo numa criança velha, não deveria sentir os efeitos de amargo sentimento que esmaga meus sonhos. Ela foi meu refúgio toda uma vida meus fantasmas iam embora, e eu volto de velha a criança, ah! Com ela havia tapete mágico, e como puro encanto ela afagava e sarava minhas dores, sentada comigo na concha do seu colo. Seus dedos, transavam meus cabelos como uma artesã, ela era linda como a rainha da arábia, me banhava com amor, e eu pura e livre ainda sinto o cheirinho do floral sabonete, me colocava para dormir e lia histórias muitas histórias, e muitas histórias se passaram nas páginas da minha vida. Hoje meu copo transbordou, tive filhos e filhas, da qual levei-os a passear no meu antigo tapete voador, transei cabelos. Já ganhei presentes, viajei, desejei, tive tudo que amei, mais meu presente ainda é abraça-la, e tocar suas mãos mornas de amor, que tornaram feliz apenas uma fatia de uma infância infeliz, quando ela partia eu chorava, até meu coração secar. Os anos voaram e me tornei como sempre desejei, ser sua filha, mais o Criador lendo nas profundezas do meu ser me tornou "sua filha " espiritual, ainda troco um beijo por um longo abraço, continuo caminhando e sorrindo, às vezes chorando porque não... Para a mulher mais linda que conheci, minha simplesmente Maria.

Anjos '

Quão inutilmente tento retomar o caminho, me sinto só, perdida, não conheço meus pensamentos, me pego caçoando de mim mesma, faço perguntas e não tenho respostas, a preocupação me domina me torna rebelde. Como sou injusta, não vejo a luz meus pés me levam ainda nos lugares que vou adorar, que privilégio é cantar, sorrir, falar, será que os anjos sorriem e falam como eu? Fui presenteada com os atributos do amor, agora inverto os papéis, não tenho acesso:faço meus valores, pago meus votos, desejo viver, faço um pacto, quero resolver o litígio, procuro o judiciário, não tenho álibi, vou caminhando no sentido contrário do vento, meridional ou setentrional qual o ventos dos anjos? Paro diante das dunas macias e falsas, se continuar apática serei ceifada pela areia. O sol do meio-dia me castiga, me enegrece a pele, meus lábios secos sentem a maciez da água, mais valiosa do que o desejo de viver. Estou gemendo, me faço nua, não pago penhor, não tenho valor, apenas descobri a luz, os anjos riem, se alegram e até choram, me sinto humana, tão humana que tento tirar o melhor de mim dançando na areia sob o comando sinfônico dos ventos, mais meu corpo antes tão frio usufrui agora o calor do sol. Passei a me chamar vida, a luz acende o abajur dos meus pensamentos, agora conheço o fundo do meu olhar, tenho vida, vi os anjos, vou usa-la para aprender a falar como os anjos, a linguagem do amor.

Leite do Coração '

Peitos com leite, coração moído, dor gritante, emoções dilacerantes, sentimentos profundos poço sem fim, tribulação paralela, ora dor ou alegria. Ser mãe é um redemoinho de profundezas da qual não temos conhecimento, somos hábeis professoras de ter cada momento controlado, ilusório coração, somos enganadas e levadas pelo amor da manipulação, cada segundo pela magia de seu sorriso. Nós mães no momento do nascimento, desejamos não respirar mais tamanha dor, choramos com a alma, acreditando ser gotas de sangue, mas no êxtase do nosso choro ouvimos outro choro, e esquecemos instantaneamente que somos humanas, e nos segundos de piscar nossos olhos imperfeitos nos sentimos divinas, e envolvidas pela cena irreal e por aquele choro que encanta até a luz, sorrimos desejosas de tocar, afagar-lhe, e dar-lhe o leite do coração. Filhos presente perfeito advindo do Criador.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Recusa '

Quem sou eu para escrever, ou colocar meu coração em palavras? Quem pode escolher ou representar palavras? Estou empanturrada de preocupação, e minhas emoções furtam minha paz, e me dão desassossego, meus caminhos aflitivos, meu dias doídos e loucos, estou sem luz, minha vida perece as carências, e se tornaram qual morada... Minha cama são espinheiros, minha confiança jaz num pequeno vaso de flores mortas, da qual as sementes  tornaram estéreis meus olhos áridos. As fontes de água que haviam em mim, evaporaram, me resta deitar nas cinzas, e me encobrir com o manto sujo e velado da fugaz existência minha... Isto é fato. 
Estou perplexa com essa visão medíocre e apodrecida da minha vida. Lentamente me desnudo do manto, me recuso a entrega, me decido pela luta, não me permito ser pó, embora seja mortal, como ervas amargas, fujo dos raios, me banho na neve, reconheço minhas fraquezas, falo palavras aladas que voam para me defender, levanto os ossos de minha cabeça como de realeza, coloco meus joelhos eretos, então desfilo, meus pés leves compassados com as batidas do meu peito. Arisco um sorriso, desloco meu ventre, e descubro que posso gargalhar, atravesso a cortina divisória da dor, para a derrubada de um dia ensolarado, dou a mão para quem amo, e num aperto quente vivo, estabeleço a duração da vida, nas mãos do Criador, pois quem sou eu para recusar.





Por : Dora Padã
Data:14/04/10

Choro e Chuva'

Até onde consigo chegar? A neve cai diante de mim, mas meu coração está congelado, tapo meus ouvidos, para que eu não ouça sentenças contra mim, Odeio vereditos... Suborno meus olhos para não velos infelizes, tento me esconder atrás da cortina da abstinência de reviver minhas carências. Meus olhos estão de vigília, lacro meus finos lábios sem cor, da qual meus sorriso escôo, dentro do meu trincado cântaro, estou frágil como um vidro invisível, então choro, choro de novo como em chuvadas de inverno, em Padã-Harã, faço meus olhos se transformarem em nuvens de aguaceiros, e minha fragilidade se levanta em um despertar, majestosa chuva, como filetes de cristais, que renovam o meu expirar, chuva que me recorda a terra, e que me faz semear a ceiva da vida, e sei que vai chover até que eu encontre o prazer de brotar, me tornar árvore, produzir flores, sentir o cheiro acre-doce, dos frutos amadurecidos... Pelo sol. Porque a chuva gentil deu lugar ao sol, permitindo reflorescer, deixando um rastro de renovação, onde tudo que quase foi decepado pela seca da minha ingratidão, brote jubilante, para alimentar mais vidas, o ramo novo e verde levou a fraude, dos meus olhos, dos meus pés, meus lábios são tocados pelo meu antigo sorriso, meus dedos ditam canções, meu coração grita como um a fonte de água, para meu corpo molhado poder dançar, a dança do sol, a dança da vida.




Por:Dora Padã
Data:10/11/08