sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Recusa '

Quem sou eu para escrever, ou colocar meu coração em palavras? Quem pode escolher ou representar palavras? Estou empanturrada de preocupação, e minhas emoções furtam minha paz, e me dão desassossego, meus caminhos aflitivos, meu dias doídos e loucos, estou sem luz, minha vida perece as carências, e se tornaram qual morada... Minha cama são espinheiros, minha confiança jaz num pequeno vaso de flores mortas, da qual as sementes  tornaram estéreis meus olhos áridos. As fontes de água que haviam em mim, evaporaram, me resta deitar nas cinzas, e me encobrir com o manto sujo e velado da fugaz existência minha... Isto é fato. 
Estou perplexa com essa visão medíocre e apodrecida da minha vida. Lentamente me desnudo do manto, me recuso a entrega, me decido pela luta, não me permito ser pó, embora seja mortal, como ervas amargas, fujo dos raios, me banho na neve, reconheço minhas fraquezas, falo palavras aladas que voam para me defender, levanto os ossos de minha cabeça como de realeza, coloco meus joelhos eretos, então desfilo, meus pés leves compassados com as batidas do meu peito. Arisco um sorriso, desloco meu ventre, e descubro que posso gargalhar, atravesso a cortina divisória da dor, para a derrubada de um dia ensolarado, dou a mão para quem amo, e num aperto quente vivo, estabeleço a duração da vida, nas mãos do Criador, pois quem sou eu para recusar.





Por : Dora Padã
Data:14/04/10

Choro e Chuva'

Até onde consigo chegar? A neve cai diante de mim, mas meu coração está congelado, tapo meus ouvidos, para que eu não ouça sentenças contra mim, Odeio vereditos... Suborno meus olhos para não velos infelizes, tento me esconder atrás da cortina da abstinência de reviver minhas carências. Meus olhos estão de vigília, lacro meus finos lábios sem cor, da qual meus sorriso escôo, dentro do meu trincado cântaro, estou frágil como um vidro invisível, então choro, choro de novo como em chuvadas de inverno, em Padã-Harã, faço meus olhos se transformarem em nuvens de aguaceiros, e minha fragilidade se levanta em um despertar, majestosa chuva, como filetes de cristais, que renovam o meu expirar, chuva que me recorda a terra, e que me faz semear a ceiva da vida, e sei que vai chover até que eu encontre o prazer de brotar, me tornar árvore, produzir flores, sentir o cheiro acre-doce, dos frutos amadurecidos... Pelo sol. Porque a chuva gentil deu lugar ao sol, permitindo reflorescer, deixando um rastro de renovação, onde tudo que quase foi decepado pela seca da minha ingratidão, brote jubilante, para alimentar mais vidas, o ramo novo e verde levou a fraude, dos meus olhos, dos meus pés, meus lábios são tocados pelo meu antigo sorriso, meus dedos ditam canções, meu coração grita como um a fonte de água, para meu corpo molhado poder dançar, a dança do sol, a dança da vida.




Por:Dora Padã
Data:10/11/08

Terra Viva'

Fragilidade é meu nome, sou criação da alegria, nasci onde a terra é roxa, e a flor do café tem perfume, meus banhos rosa de canela, minhas vestes saias de lírios, sou ébria dependente de minhas emoções, brindo a vida, meu viver, meus amigos, meu paraíso, e todos os sorrisos. Amanheço com os pássaros, aprendo com o seu zelo, e agradeço o bom dia da beleza que é viver, sinto o cheiro encantado verde da terra, minha saliva é mel do prazer, ao sentir o presente Divino, ao degustar o pão de cevada, o leite da vida, manjares e creme dos queijos. Só então nos damos conta de que estamos também desfrutando dos juros cobrados da vida, os sorrisos de quem amamos, e que tudo, por tudo que temos, vale a tentativa de lutar para viver. Levantamos da mesa rindo do nada; tempo que levamos para descobrir o êxtase que é estar vivo. 
No caminhar, nessa terra criada para abrigar vidas, feita como planeta azul mais perfeito, para dar emoções, riquezas no amor, e por que não chorar? Quando o coração é levado a transbordar pelo milagre elevado do parto, chamado vida. Minha terra me traz vida. 


Por: Dora Padã
Data:20/04/10

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Tela '

Minha emoções são pincéis da qual pinto minhas paisagens, posso colorir minha pele opaca, retocar meu sorriso, usar a cor preferida da minha lembrança, ou perguntar as meninas dos meus olhos, quais as cores que tem minha íris, preciso pintar, redesenhar meu eu, ser feliz, me sentir perfeita diante do "Artista Maior", por isso me envolvo em cada cor, cada luz, cada toque de tinta para expressar, se meu toque é forte ou suave. Às vezes emanada de tingida pelo viver, eu estendo meus braços frágeis e leve, para tocar fora da Tela, e sinto o estonteante cheiro de tinta, como fragrância de madeira recém cortada, me vejo viva, viva para ver o lugar que almejo estar, quero pintar meus sonhos, o vento, o ar, o sol acariciando os rios, se possível até a melodia silenciosa que ele canta, ao tocar nas pedras. Parece impossível reproduzir tal som, como posso pintar o ar, o ofegar, assim como é impossível desejar, e não viver, como posso pintar sonhos? Sou real, sou realeza, às vezes viajo nas asas da esperança, mais como mendiga da vida, quando retorno sou rainha, então rasgo as Telas da minha vida, e os pincéis de espinho do meu padecer, flores aonde está esse seu perfume? Desejo e preciso sentir o cheiro no ar, dar vida em minhas Telas, minhas veias. Num manchar de tinta, me sinto pulsar, vaguear, olho ao redor, não estou mais presa na Tela... 
Estou viva... 
Estou voando... 
A tribulação se foi...O vermelho permaneceu, pelo cheiro não é tinta, é meu sangue, sangue me trazendo de volta a vida, toco na moldura dos meus ossos, os tons são claros, suaves pastéis, esguios são meus braços, minha paspatur, a pequena falsa moldura, a reconheço, finalmente meus pés tocam a terra firme e seca, posso caminhar, Que Saudades, molho o chão seco com minhas lágrimas felizes... E por um instante toco na Tela vazia em branco, vejo meu sonho de viver resgatado, pacto concluído, meu paladar saliva o desejo da gordura do trigo, me fartar do mel do meu quintal, subir na minha árvore... Vou abrir a boca e encher a terra com a minha própria voz, para que todos ouçam, que vivo por gratidão, gratidão que me ensinou a pintar minhas dores, na Tela da minha alma, e tingir de varias cores minhas dores, estendo meus dedos, e toco nos meus sonhos. 
Estou na Terra, não na Tela... 

01/01/2055.